sábado, 12 de abril de 2014

PAZ 


É como se ela fosse uma borboleta sempre em fuga. Ás vezes, pousa no meu dedo trazendo esperanças de que vai permanecer comigo, mas com o tempo parece que se cansa e vai embora. Eu até poderia fechar minhas mãos quando estivesse por perto, trancafiá-la, sem correr risco de ver sua partida. No entanto não à teria para sempre e sim sufocaria a ponto de nunca mais tê-la. Minha pequena paz foi embora já faz dias, porém eu sei que a qualquer instante baterá na minha porta e vai estar me confortando enquanto descansa nas minhas mãos depois de longas viagens acalmando corações desesperados como o meu.

Hanna

terça-feira, 1 de abril de 2014

DUAS CORES UM SENTIMENTO
(escrito por Hanna Águida)

  O sol ainda tinha seus flashes naquele fim de tarde com o pôr do sol chegando a passos lentos, estava sentada na areia da praia onde a vista era mais graciosa e confortável pela presença dele, por pequenos instantes me permiti imaginar nós dois velhinhos sentados na areia vendo o pôr do sol enquanto os netos correriam pela praia sem perceber a beleza que presenciavam. Hoje penso o quão é irônica a vida, eu planejava em segredo uma vida com ele enquanto ele também fazia o mesmo. Tantos momentos esperando que tocasse minha mão, que sua boca conhecesse a minha e Anan esperava a mesma atitude. Erámos dois jovens covardes demais para mostrar o que sentíamos, duas pessoas separadas pela cor, cercadas por uma raiva e desprezo que já existia antes mesmo de nascermos e que todos cobravam e ensinávamos a possuir, mas talvez, por algum desejo divino não tínhamos. Sua cor chocolate sempre foi um dos meus motivos de sentir inveja dele, sua força era impressionante e seus cabelos cacheados me encantavam enquanto os meus eram lisos como fio de seda, tão comum, diferente dos seus. Os seus olhos escuros como a noite carregava muitas alegrias apesar das dificuldades da vida. Era um jovem livre, mas ainda julgado pela cor. As portas se mantinham fechadas para ele enquanto todas estavam escancaradas para mim. 
— Clarie, eu não queria que você fosse embora. — ele disse meu nome como um suspiro, olhando fixamente em meus olhos.
— Fazer minha vontade está muito longe do meu alcance Anan, você é especial pra mim.
— Senhora será com dor no peito que a levarei de volta a sua casa. ¬— ele falou com a cabeça baixa.
— Anan já disse para não me chamar de senhora! — respondi-o zangada e aflita por saber que para ele essa despedida também era dolorida.
— Desculpa Clarie, é o mau costume. Você não vai voltar? — Anan pergunta olhando as estrelas.
— Provavelmente não, o lugar para onde vou é longe demais. Você me promete que vai fazer a faculdade de medicina? — pergunto segurando as lágrimas na garganta imaginando o quanto ficaria orgulhosa por ele se tornar médico.
— Eu prometo. — ele responde colocando a sua mão sobre a minha e a segurando firme. — Sentirei sua falta. — sua respiração ficou ofegante e podia sentir seus braços fortes tocando os meus levemente. Sua pele era quente como o sol. Não me lembro de quanto tempo ficamos sentados segurando a mão um do outro em silêncio, só sei que naquele momento tive a certeza de que eu e Anan compartilhávamos o mesmo sentimento. Ele soltou minha mão e acariciou meu rosto, secando as lágrimas que havia nele e beijou meu queixo, depois cada bochecha pálida minha, beijou meu nariz, e então o canto da minha boca até nossos lábios começarem a traçar o mesmo caminho, um a procura do outro. Eu sabia que estava envergonhando minha família e toda descendência dela ao beijar e amar ele, mas nada naquele momento importava. Nós estávamos em um mundo diferente quando nossas bocas se encontravam. E passamos a noite inteira juntos de baixo do luar, enfrente a praia, olhando as estrelas. Ele pediu que eu fechasse os olhos e segurou minha mão, então disse:
— Casa comigo?! Você não precisa ir embora. — as lágrimas que segurei começavam a aparecer novamente.
— Eu não posso. — digo com um aperto no peito — Meus pais não vão aceitar que a filha deles se case com o empregado. Eles seriam capazes de... — não consegui terminar a frase.
— Eu tenho minhas economias Clarie, eu tenho guardado todo o meu dinheiro há um tempo, não tem muito, mas o suficiente para embarcamos em um trem até a cidade onde a minha tia mora, nunca nos procurariam por lá! — fiquei pasma com que ele falou e pensando na loucura que seria fugir de casa com 19 anos, pouco dinheiro e para um lugar que não conheço. Levantei rapidamente e comecei a andar de um lado para outro, tentando pensar e o Anan esperou pacientemente sentado olhando apenas eu ir e vir.
— Eu aceito. — Até hoje ainda é difícil descrever como era a feição no rosto dele naquele momento e mesmo assim ela só me fez ter mais certeza de que fiz a escolha certa. 
***
Voltamos a minha casa e colocamos todas as roupas que pudemos na mala, levei comigo o dinheiro para emergência que havia guardado em uma lata velha no meu armário e fomos à pontinha dos pés até a porta, quando lembrei que deveria pelo menos deixar um bilhete para os meus pais, porém fui breve: “Decidi que ir para França não é o que realmente desejo, vocês ligaram depois os pontos por conta própria, mas quero que saibam que a decisão de ir embora dessa cidade foi minha. Agradecerei se não procurarem por mim. Adeus”. Coloquei o bilhete em cima da mesa da sala de jantar e comecei a traçar meu caminho. 
A viagem foi extremamente longa e cansativa. Anan ficava mais tempo acordado do que dormindo, ele dizia que tinha medo de acordar e eu ter sumido, os nossos assentos eram desconfortáveis para uma viagem de dois dias. As pessoas estranhavam um negro de mãos dadas com uma branca, todos olhavam para nós e comentavam.
— Você está sendo o centro das atenções Anan! — falei sorrindo.
— Nós estamos sendo, mas quando chegarmos à casa de minha tia você irá precisar se acostumar a ser o único centro das atenções para muitos daquela cidade por um bom tempo. Clarie penso que você será a única branca naquele lugar! — ele diz preocupado com a minha reação.
— Sempre gostei de chocolate! — ficamos rindo por um tempo até eu cair no sono nos ombros de Anan e acordar com um beijo na testa para uma nova vida.
***
— Então vó?! — pergunta a pequena Sara de apenas 10 anos ansiosa.
— Sara, você já sabe o final. — respondo com a voz sonolenta.
— Não sei não, só vou dormir quando a vó terminar de contar a história! — decreta a pequena de braços cruzados fazendo uma careta nem um pouco assustadora.
— Tudo bem, sua teimosa, mas depois você vai dormir!
— Tá bom. — responde decepcionada por ver que não vai conseguir driblar a noite hoje.
CONTINUAÇÃO...

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014




COTIDIANO - CHICO BUARQUE 

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã