sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014




COTIDIANO - CHICO BUARQUE 

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A fé para mim é sinônimo de coragem. Existe coragem naqueles que acreditam e confiam no duvidoso. Ter fé na minha opinião é acreditar e confiar no que não se vê mas se sente, é acreditar mesmo quanto tudo aponta o contrário, é confiar mesmo existindo tantas dúvidas e poucas certezas.
Hanna

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Chega dessa frase ridícula “Mulher sexo frágil”. Faça-me favor quem foi o idiota que inventou essa frase?! Frágil?! Se fossemos frágeis os homens menstruavam todo mês, carregariam os filhos por nove meses na barriga com dor na coluna e os pés inchados e ainda seriam considerados ainda mais lindos no período da gravidez como nós.  Se as mulheres fossem o sexo frágil todos os homens levantariam no meio da noite para dar de mamar mesmo estando mortos de cansaço, os homens cuidariam dos filhos, da casa e ainda trabalhariam fora. Somos nós que ficamos o dia inteiro de salto alto no trabalho pra lá e pra cá resolvendo os problemas sem perder a pose. Foi à mulher que conquistou o seu lugar na sociedade e não como vocês que já ganharam de bandeja. Se fossemos fracas, frágeis, indefesas, nós não passaríamos por tantas coisas e continuaríamos em pé até hoje... 

Hanna

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Renascendo


As luzes caíam como fleches em meus olhos, de relance conseguia ver paredes quase brancas, uma cortina ao meu lado e por milésimos de segundos sentir o toque de alguém em minha mão. Então meus olhos me traem se fechando para tudo lá fora.
***
Quando finalmente consigo dominar meus olhos, insistentes a se fecharem, um rosto desconhecido está me observando com o olhar fixo em meus olhos que devem estar arregalados pelo susto. O homem de toca e máscara branca está dizendo algo, falando devagar e com gestos, mas não consigo ouvir. Acho que os meus olhos não são os únicos desobedientes aqui. Estou tentando, mas é como se tivessem apertado o botão mudo da TV e não consigo mudar isso, a cada esforço que faço para me concentrar em seus lábios o homem vai sumindo e as paredes brancas também.
***
Uma, duas, três, gotas de água distantes pingando, como uma torneira mal fechada em uma pia. Talvez essa pia tivesse atrás da cortina que apareceu na minha frente, não sei quando e como foi parar aí, atrapalhando minha visão á um quadro de borrados pendurado na parede. Pelo menos sei que hoje, posso ouvir, meus ouvidos voltaram a serem meus servos. Mas esse “hoje” é tão vazio, não sei em que tempo se passa ele. O que sei é que meu pé está descoberto e com frio, não consigo ver nenhuma janela ou as paredes agora, porque há cortinas em minha volta, não consigo movimentar o meu pescoço, como se algo o mante-se assim imóvel, porém não é possível ver o que seria isso, pois não tenho nem a possibilidade de abaixar a minha cabeça. Meus pés nus são minha única segurança de que meu corpo pode estar inteiro. 
Espero impacientemente por alguém, qualquer pessoa, por que agora que posso ouvi-los ninguém vem me vê? Será que eu tenho alguém? Eu tenho? Espera meu nome é... Ah, vamos você consegue, meu nome é... Era só o que faltava, a minha cabeça não quer me obedecer.
― Senhorita Hilley, bom dia!― diz o mesmo homem que vi ontem, melhor da última vez que abri meus olhos, acho que ele não sabe que estou ouvindo. Meu nome é Hilley? Quem escolheu esse nome feio para mim?
― Hum, seus sinais vitais estão bons, pelo que vejo hoje você abriu os olhos, não é? ― Ele faz um sorriso estranho como se soubesse que eu não poderia responder a perguntar. Sim, ainda não sou capaz de comandar minha boca, tento só que ela pouco se abre e essa pequenina abertura me deixa muito cansada. Como posso me cansar de um ato tão ridículo? Quero apenas abrir minha boca e dizer que estou com fome, frio nos meus pés e que não gostei do meu nome.
― Senhorita, você tem olhos azuis muito lindos! Preciso me certificar se você está me ouvindo, então se gostou do meu elogio pisque uma vez os seus olhos, se não gostou pisque duas. ― Levo certo tempo para captar tudo que ele falou e me perco pensando se pisco uma vez ou duas ― se você não piscar vou entender que ainda não pode me ouvir. ― eu posso ouvir você! Só tenha um pouco de calma eu não lembro se os meus olhos são bonitos mesmo, tem como responder “não sei”? Ok. Já entendi só tenho duas opções.
Pisco para ele apenas uma vez. Ele me dá um sorriso mostrando que está satisfeito e diz “Por hora é isso senhorita, vou pedir ao Doutor para vim examiná-la melhor, descanse.” Ele está indo embora sem se quer me oferecer algo para comer ou dizer por que estou aqui. Como assim me dá um elogio e vai embora? “Descanse”? Ele sabe que quando fecho os olhos nunca sei por quanto tempo fiquei no escuro?
***
Em algum momento da minha raiva por aquele homem não ter se quer perguntado se eu estava me sentindo bem, se queria alguma coisa, eu apaguei. E de novo não sei por quanto tempo. Estou pelo menos agora sem a cortina na minha frente livre para ver o quadro de borrados e admirar a parede quase branca. Meu limite de visão é assim, a ponta dos meus pés, o quadro e parede. Estou arriscando fazer uma conexão profunda com o quadro, são três borrões de formas e cores diferentes deve ter algum sentido para colocarem um quadro sem sentido, no que parece ser um quarto de hospital. Na frente de uma paciente que se encontra bem confusa. Ah, é isso!!! Eu e o quadro somos iguais, estamos borrados por dentro, bagunçados, confusos, sem sentido. É eu devo estar muito confusa mesmo para me comparar a um quadro.
***
― Senhorita Hilley?!
― Hum. ― essa foi a minha resposta, na real minha resposta para tudo, esse é único som que consigo fazer.
― Sou o doutor Stevan, responsável pelo seu caso, um dos enfermeiros informou que a senhorita estava ouvindo e mexendo os olhos. Preciso que a senhorita fique ciente que tem que ir com calma, você foi encontrada com grave ferimentos e teve uma inflamação no seu cérebro tivemos que colocá-la em coma induzido, para o seu cérebro poder descansar. Pelo que percebo você ainda não consegue falar muito, mas está tudo bem, seus sentidos vão voltar aos poucos. Se você estiver precisando de algo é só apertar esse botão que tem na sua mão esquerda e o enfermeiro virá até você. Conversaremos mais tarde. ― diz ele com a maior calma, sorrindo de modo modesto para mim. Queria poder dizer que ainda estou com frio nos pés, que essa fome está me matando, que estou com dor de cabeça, que ele é um médico muito bonito, que não me lembro de nada que aconteceu, contudo eu só quero voltar pra casa, se eu tiver alguma.

Continua...

Acho que esse é o motivo de escrever e pensar tanto sobre doenças, talvez, no fundo eu esteja me sentindo doente, mas uma doença que não pode ser diagnosticada como as outras. A doença está muito bem escondida, com raízes fixas na minha mente, onde apenas eu posso cortar esse mal.
Nós dois sabemos que não adianta dizer que se importa porque suas palavras são vazias
"Quem não tem uma linha guia, vira e mexe se vê perdido, sem saber em que direção caminhar. Acordar e simplesmente não ter um objetivo a alcançar é apenas existir, sem emoção alguma... Outra constatação a fazer é que viver apenas sonhando não faz de ninguém um vencedor."
" Valorizar demais o erro, a falha, enfim, aquilo que gostaríamos que fosse diferente, não ajuda em nada, pelo contrário, deixa a caminhada ainda mais pesada..."

"Há estudiosos que defendem a tese de que as pessoas felizes não têm um sucesso atrás do outro, e que as infelizes não vivenciam um fracasso após o outro..."
"Dizem que a felicidade não é um ponto de chegada e sim o caminho percorrido..."

domingo, 16 de fevereiro de 2014

"Eu não entendo por que as pessoas pensam que têm que viver de acordo com os padrões do mundo"
Ouvindo o nosso silêncio

Acho que dar um tempo para nós mesmos, é uma das tarefas difíceis da vida. Parece que existe coisas muito mais importantes, como aquela hora extra no emprego que vai dar um bom dinheiro, as férias que podem ser vendidas, sair para balada com os amigos, os filhos, o marido, a bagunça no quarto ou na casa, as contas para pagar, tudo aparentemente é mais importante que nós. São responsabilidades que colocamos um peso maior que deveria ser. Ficamos de lado para tudo ao redor parecer seguro, porém esquecemos que no fundo nada vai ficar bem se não estivermos bem. Escolher se afastar dos amigos, das festas, das responsabilidades, ficar com as férias e o silêncio não é tão difícil, só que exige amor a si mesmo. Tem ocasiões em que alguns seres humanos ficam bagunçados demais por dentro, perdidos, sem ter um sentido e é nessa hora que se é crucial abandonar um pouco o nosso mundo, ficar longe. Encontrar um lugar, um refúgio, que esteja fora do seu ciclo no cotidiano para fazer a viagem essencial das nossas vidas. Viajar "de: nós" "para: nós", conhecer cada cantinho, ouvir cada suspiro de socorro e com paciência arrumar um por um e sem perceber o sentido de tudo, da vida, de nós, aparacerá como um flash. Porque o nosso silêncio fala...

sábado, 15 de fevereiro de 2014

No momento que os lábios se encontram é esquecido todas as regras da sociedade, todas as leis que nos separam. Os problemas não existem como o resto do mundo. Você e eu por algumas horas, com o profundo desejo que elas fossem eternas. Pequenos momentos eternos...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Chega um momento em nossas vidas que perdemos o chão. Que saímos do trilho, do nosso caminho, nos perdemos na escuridão e não conseguimos voltar. E é justamente nesse momento que descobrimos quem são nossos amigos de verdade. É quando estamos em nosso pior estado, é quando tudo já não faz sentido, quando tudo parece estar perdido. Surge em nossa frente aqueles dos quais jamais imaginamos ser tão importantes e essenciais em nossas vidas. São as nossas luzes. Os amigos de verdade não passam a mão na sua cabeça e dizem que você está certo em transformar sua vida em algo sem graça, não deixam a tristeza e a decepção abitar seu peito. Pelo contrario eles te olham nos olhos e falam todas as verdades, seus defeitos, seus erros, são verdadeiros e te dizem a realidade. E como a vida é dura, difícil e vai continuar sendo. Falam até onde você chegou o quanto você é capaz, fazem você enxergar que é melhor do que imagina. Então depois de um bom sermão eles te abraçam e choram com você se for preciso, porque sabem o quanto é difícil encarar a verdade. E no outro dia te fazem rir sem parar, não largam do seu pé, não te deixam desistir. Porque sabem que amizade é cuidar!
  • — Quem você pensa que é?
  • — Eu? Penso que sou sua e você meu.
  • — Tá certa.
  • — E por isso vou te ter fácil, nada de ser romântica. Não vou precisar.
  • — E porque acha isso?
  • — Não acha que eu já lutei o bastante pra te ter, não? Não acha que eu já fui romântica ao extremo? Tô cansada, quero meu prêmio.
  • — E meu beijo é o seu prêmio?
  • — Você por inteiro é o meu prêmio, idiota.


Tempo é tudo que não temos, queria poder sair e andar, caminhar até minhas pernas se queixarem de dor... Queria voltar àquela praia e sentar naquela areia quentinha olhando o mar, sentindo a brisa, apenas pensando ou talvez lembrando... Porque cada canto da casa é seu, é feito dos nossos momentos... Fico de camarote vendo nossas imagens, nossos carinhos vendo filme na sala, seus sorrisos bobos enquanto preparo o café, seus abraços inesperados enquanto arrumo a mesa, nossos beijos e a melhor de todas é você com a cabeça deitada no meu colo e abraçando minha cintura como uma criança segura com seu  cobertor... É impossível não parar e simplesmente admirar essas lembranças...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Tudo tem um limite, o amor, a paciência, a amizade, porém você escolhe o limite e se eles existiram...


Excluir, Deletar, Apagar... É a minha meta nos dias de hoje, deletar aquela pessoa que não me faz bem, que não me trata como mereço ou que não me dá o mesmo retorno de tratamento que dou á ela. Mantê-las é muito cansativo para mim, completamente desgastante, as faço bem mas elas só me fazem mal, no final acabo plantando flores e só nascendo mato por causa dessas ervas daninhas. Estou falando de apagar não só no facebook mas na minha própria vida. Porque se você for para dar e receber coisas ruins, prefiro não receber nada e continuar doando o melhor de mim, porque não receber nada faz menos mal...


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


PAREDE DE VIDRO

Ela só tem 6 anos, pensei...

O ônibus estava lotado, todos os passageiros após atravessarem a roleta olhavam focados na minha cabeça tentavam disfarçar os olhares e ás vezes a vergonha de ter olhado.
Infelizmente toda quarta-feira da segunda semana de cada mês tenho que me arrastar até o carro na garagem, dirigir em direção ao centro da cidade por uma meia hora, lutar por um estacionamento perto da clínica e, claro, a melhor parte dessas quartas é a quantidade de injeções e remédios para continuar com o tratamento. O “C”, é como prefiro chamar o meu câncer, está sempre ali, me acompanhando em todos os lugares, ele construiu uma parede de vidro em volta de mim. Todos me olham e eu posso olhá-los também, mas não podem me tocar, melhor não querem, não querem quebrar essa parede. Ficar longe dos olhares dos outros é sempre mais confortável.
Ontem (27 de janeiro) quando meu carro resolveu não funcionar, talvez, estava em greve por não ser lavado há alguns meses, precisei optar por outro veículo que não me cansasse, o ônibus. Ah, andar de ônibus, não existe atividade mais constrangedora para uma mulher alta, pálida, careca, com um vestido longo tentando esconder as veias saltadas por falta de peso!
Os primeiros 15 min. foram perfeitos, existia apenas o motorista, o cobrador e o vento que vinha da janela, do lado de fora do meu quadrado transparente. A paz para mim costumou a ser algo curto na minha vida. As pessoas começaram a subir, assim que pagavam suas passagens iniciava a entrada ao comum ritual de se incluírem do lado de fora do meu mundo, aquele breve instante onde a roleta faz uma volta e joga alguém aleatoriamente no que seria o meu espaço, que incrivelmente começa a diminuir a cada pessoa que entra, olha aquela mulher pálida e careca, e então se sentam em qualquer lugar que mantenha uma distância saudável da pálida aqui. Esqueci-me de contar o “C” criou essa parede onde eu não posso sair, mas as pessoas podem entrar só que preferem tornar meu mundo menor sobrando somente eu e o assento vazio ao meu lado.
― Se segura Amy! ― grita uma mulher após atravessar a roleta. Consigo ver, forçando um pouco a visão, uma pequena criatura vinda em direção ao assento vazio, quase caindo sem ter a onde se segurar.
O Pequeno-pedaço-de-gente se sentou ao meu lado enquanto meus olhos se esbarravam com o olhar reprovador da mãe para menina, inclino minha cabeça para baixo e vejo aquela criança me observando atentamente, boquiaberta com a ausência dos meus cabelos (ruivos).
― Oi ― diz ela com um sorriso, mostrando um dente da frente faltando. Noto que a parede acaba de rachar.
― Oi ― respondo gaguejando.
A mãe do Pequeno-pedaço-de-gente pede para ela fazer silêncio, porém dou sinal de que não havia problema.
― Eu tenho 6 anos, quantos anos você tem? ― pergunta a menina.
― Tenho 25. ― respondo intrigada com a pergunta. Mais uma rachadura surge.
― Quando eu tiver 25 anos também vou ficar careca? ― pergunta apontando para minha cabeça.
― Não, somos diferentes, você não está doente. ― respondo em seco, vendo que a mãe da menina estava intrigada com a conversa.
― Mas você é tão linda, posso colocar esse lenço na minha cabeça? Porque você está doente? Minha vó disse que quando a gente fica doente a gente tem que tomar remédio, o seu remédio é bom? Porque o meu tem gosto de morango. Eu posso te dar o meu remédio se você quiser! ― diz ela sorrindo e pela primeira vez reparo no seu olhar inocente, que não era atingida pela parede, todo aquele ritual não fazia efeito nela, era imune aos dois mundos paralelos (eu e os outros), a menina conseguia uni-los de alguma forma.
― O meu remédio é diferente do seu. Minha doença não tem cura, nunca vou deixar de ficar doente. ― digo a ela tentando poupá-la do real sentido de tudo.
― Eu aprendi com a minha vó que o amor cura tudo, você só precisa de amor. ― fala a pequena me agarrando, dando um abraço apertado no meu frágil corpo, não conseguia e não sabia o que dizer aquela menina. Ela não me soltava e minha única alternativa foi tocá-la, abraçá-la com a mesma ternura que ela me doou. A sensação de abraçar era algo apagado da minha mente, como havia me esquecido dessa energia transmitida em um abraço. As lágrimas escorreram discretamente. Não sei por quanto tempo ficamos abraçadas, mas foi tempo suficiente para me sentir viva de novo. Ela havia quebrado a minha parede de vidro.

Autora: Hanna Águida